Segurança, Ética e Saúde: A nova lei de pesquisa clínica e a responsabilidade corporativa.
- Diego Farack
- 4 de nov.
- 4 min de leitura

O ano de 2025 marca um novo capítulo para a ciência e a saúde no Brasil. A regulamentação da Lei nº 14.874/2024, conhecida como Lei de Pesquisa Clínica, representa um avanço histórico ao modernizar as práticas científicas que envolvem seres humanos, reforçando critérios de segurança, ética e transparência. Mas, além de seu impacto direto na área biomédica, essa nova legislação traz reflexões valiosas para o universo corporativo — especialmente para as empresas que atuam em saúde e segurança no trabalho (SST).
No cerne da lei estão princípios que também sustentam a SST moderna: gestão de riscos, prevenção de danos, integridade e valorização da vida. A partir dessa semelhança, vale a pena analisar o que as companhias podem aprender com essa nova perspectiva e como ela inspira uma cultura de prevenção mais humana e estratégica dentro das organizações.
A nova Lei de Pesquisa Clínica: Transparência e valor à vida
A Lei de Pesquisa Clínica foi criada para assegurar proteção integral aos participantes de estudos científicos, ao mesmo tempo em que incentiva o desenvolvimento da inovação e a competitividade nacional. Entre os seus pontos-chave estão:
● A exigência de protocolos de segurança rigorosos para mitigar riscos físicos, psicológicos e éticos;
● A adoção de procedimentos padronizados de consentimento informado, garantindo que cada participante compreenda e aceite de forma consciente os riscos envolvidos;
● A obrigatoriedade de supervisão técnica profissional e auditoria contínua, similar à forma como a SST audita seus próprios processos para preservar vidas e prevenir acidentes.
Essas diretrizes revelam uma mensagem essencial: nenhum resultado científico ou produtivo justifica colocar a saúde humana em risco. O paralelo com a segurança no trabalho é direto — da mesma forma, nenhuma meta, demanda produtiva ou objetivo organizacional deve se sobrepor à integridade física e mental das pessoas.
Paralelos com a saúde e segurança do trabalho (SST)
Os princípios que regem a lei encontram equivalentes claros nas regras e práticas de Saúde Ocupacional e Segurança no Trabalho. A seguir, um comparativo técnico que demonstra essa conexão:

Em ambos os contextos, a cultura de cuidado se sustenta no mesmo tripé: ética, prevenção e conhecimento técnico.
Isso significa que o movimento em direção à conformidade regulatória deve ser acompanhado por uma transição cultural — um processo que transforma o cumprimento de leis em valor corporativo e diferencial competitivo.
Integrando ética e prevenção: O papel das empresas
A principal lição que as empresas de SST podem absorver com a implementação da Lei de Pesquisa Clínica é o valor da consistência preventiva. Em vez de adotar práticas reativas após um acidente ou incidente, o ideal é estabelecer políticas contínuas e antecipatórias, embasadas em dados e protocolos claros.
Para isso, três pontos são estratégicos:
1. Cultura de cuidado e segurança ética
Da mesma forma que a nova lei exige respeito absoluto aos participantes das pesquisas, as empresas precisam reforçar a importância de tratar cada colaborador como sujeito de direito e não como recurso operacional. Isso implica criar condições seguras, resolver fatores de risco psicossociais e incentivar o autocuidado como parte da rotina organizacional.
2. Sistema de gestão baseado em evidências
Toda decisão preventiva deve ser sustentada por dados e indicadores, assim como ocorre nos estudos científicos. Aqui entra o papel do GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais), que permite rastrear falhas, identificar causas e implementar melhorias como um laboratório corporativo de saúde e segurança.
3. Transparência e responsabilidade social
Ao adotar práticas transparentes — sejam elas na comunicação de riscos, na avaliação de condições ergonômicas ou em treinamentos de SST —, a empresa reforça seu compromisso ético e seu papel social. A confiança entre lideranças, técnicos e colaboradores se torna uma fonte real de vantagem competitiva.
Benefícios organizacionais da cultura de segurança
Construir um ambiente corporativo que valoriza a, a integridade e a prevenção gera benefícios diretos que vão além da conformidade legal:
● Redução de custos operacionais com afastamentos, acidentes e passivos trabalhistas;
● Aumento do engajamento e da produtividade pela maior percepção de segurança e cuidado;
● Melhoria do clima organizacional e fortalecimento da marca empregadora;
● Progresso sustentável, alinhado a agendas ESG e à responsabilidade social corporativa.
Esses ganhos, sustentados por uma visão estratégica e humana de gestão de riscos, reforçam que prevenir é, antes de tudo, uma escolha de liderança e inteligência empresarial.
Conclusão
A regulamentação da Lei de Pesquisa Clínica é uma conquista para a ciência e também um lembrete poderoso de que toda inovação deve priorizar a segurança, a ética e o bem-estar das pessoas.Da mesma forma, as empresas que atuam com saúde e segurança no trabalho têm o dever e a oportunidade de aplicar os mesmos princípios em seu dia a dia, transformando obrigações legais em práticas inteligentes de gestão e cuidado.
A prevenção de riscos, o respeito à integridade humana e a busca por decisões baseadas em evidências são pilares de uma cultura corporativa sólida e sustentável.Assim como na pesquisa clínica, a vida deve estar sempre no centro de qualquer estratégia.



